Vamos Regenerar a Floresta Portuguesa?

Era uma vez uma floresta

No passado, a região do Vale do Sousa, onde vivemos e trabalhamos, encontrava-se fortemente florestada, ao ponto de, em Paredes e Paços de Ferreira, ter servido de suporte para o desenvolvimento do mais significativo pólo da indústria de mobiliário em Portugal.

Hoje, por cá e por todo o país, dizer que as nossas florestas se encontram negligenciadas será, certamente, anedota, face aos descalabro que se vê. Povoadas com espécies de pouco valor acrescentado, apresentando uma biodiversidade extremamente baixa e um valor ecológico muito aquém do seu potencial, são pasto das chamas e vítimas de proprietários ignorantes e madeireiros irresponsáveis.

Pela nossa região, a indústria do mobiliário ainda vai mantendo a sua importância, mas temos vindo a assistir ao ocaso de dezenas de empresas de carpintaria e marcenaria, muitas delas com dimensão razoável, capazes de produzir com muito boa qualidade, e a esmagadora maioria da madeira que é, hoje, utilizada para o fabrico de móveis e carpintaria é importada.

Pela nossa região, o destino da esmagadora maioria da madeira produzida, em vez de servir para abastecer a indústria mobiliária local, é, a par da celulose, a calefacção, sendo a madeira vendida sob a forma de cavacos. Se não arde no monte, arde na lareira.

A extracção da madeira é, regra geral, feita de modo não sustentável, implicando, a entrada de equipamento pesado no terreno florestal, equipamento  esse, muitas vezes, desadequado, que causa danos para as árvores mais jovens e destruição da vegetação e estrutura do solo.

No final, perde o proprietário florestal, perde o Planeta, perdemos todos. Tudo isto com o objectivo da obtenção de um lucro rápido para alguns.

Não é de surpreender que uma boa parte dos proprietários florestais da região, por desconhecimento, desencanto, ou desinteresse, deixe as suas áreas florestais, cada vez mais, entregues a si próprias, acabando, em muitos casos, como pasto das chamas.

Regresso à floresta

Existe um potencial tão grande nos terrenos florestais do nosso país, que não está a ser aproveitado – pelo contrário, está a ser erodido!

Acreditamos que as coisas poderão ser feitas de modo diferente: de um modo mais sustentável, regenerativo, de modo a gerar maiores rendimentos, em perpetuidade!

Ao abandonarmos a ideia do abate irresponsável e do lucro rápido e fácil, ao optarmos por um método de abate selectivo, árvore a árvore, permitindo que o bosque se regenere, que as árvores amadureçam, cumprindo a sua função biológica de produtor de oxigénio, sumidouro de carbono, dispersor de sementes, alimento e abrigo para a vida selvagem, tutor para as árvores mais jovens, etc., etc., etc., teremos um bosque que nos poderá fornecer madeiras nobres e muitos outros produtos de qualidade. Em abundância e em perpetuidade.

A opção por sistemas de serração portáteis (como os da Logosol, mas existem outros), que permitem que o primeiro processamento da madeira seja feito no próprio local de abate, transformando o toro em tábuas, barrotes ou vigas, permitindo, até, que estes possam ser moldados no local, torna desnecessária a entrada de maquinaria pesada na floresta, com todos os inconvenientes que tal opção acarreta.

É certo que a capacidade de processamento das serrações portáteis é muitíssimo inferior ao de, por exemplo, o de um madeireiro que entra pela floresta dentro com equipamento pesado e que com camiões, tractores florestais, skiders ou forwarders rapidamente abate e coloca os toros numa serração automatizada, com elevadíssima capacidade de produção.

Tal opção será, seguramente, mais rentável para o madeireiro, que faz negócio, mas, se visto no longo prazo (e, em muitos casos, no imediato*), será menos rentável para o proprietário, ou para o gestor do espaço florestal, pois esse espaço poderia continuar a produzir muitos outros produtos e deixa de poder, tornando-se improdutivo, com prejuízo para a comunidade – que somos todos nós – pela perda das funções biológicas de um ecossistema que é eliminado.

As serrações portáteis, são versáteis, de pequena dimensão e fácil utilização e transporte, requerendo pouco espaço para operação, são competitivas no preço, e adequadas a empresas de pequena dimensão, podendo representar uma excelente oportunidade num Portugal afligido por uma contracção económica.

Pensar em ciclo fechado: Criar valor acrescentado, mitigar a pegada ecológica e regenerar ecossistemas

Se pensado em ciclo fechado, um projecto florestal pode ser sustentável (regenerativo, mesmo!) pode, até, tornar-se ainda mais rentável!

Porquê ter que procurar um mercado para as árvores, que serão vendidas a baixo preço, se podemos vender madeira transformada (em tábuas, barrotes, vigas, postes), ou, ainda melhor, produzir equipamentos em madeira que possam ter elevada procura e criar valor acrescentado?

Floresta encantada. Fechando o círculo.

Para além de poderem produzir madeiras nobres, como as várias espécies de carvalhos autóctones, o castanho, a faia, a nogueira, a tília, etc., os nossos espaços florestais poderão, simultaneamente, produzir muitos outros produtos de elevado valor acrescentado. Poderão produzir vários tipos de nozes e outros frutos secos – porque não vendê-los já descascados e embalados, aumentando-se o valor do produto?

Poderão produzir vários tipos de frutos do bosque, bem como fruta fresca e mesmo produtos hortícolas.

Troncos de árvores recém-abatidas que, devido a algum defeito na madeira, perderam valor comercial, poderão ser inoculados com esporos de cogumelos e semi-enterrados no solo da floresta, à sombra, passando a produzir cogumelos gourmet ao fim de um ano.

Nestes espaços florestais a apicultura terá todas as condições e motivos para existir, com produção de mel e restantes produtos da colmeia.

Restaurar a Ligação à Terra e à Comunidade

Será essencial voltar a ligar as pessoas à Terra, à Natureza, ao Local e à Comunidade. Será essencial recuperarmos a reverência que os nossos antepassados tinham pela Natureza, pela Água pelas Árvores e pela Floresta.

Falando em floresta… pensem nisto: ao longo do tempo, uma máquina vai perdendo o seu valor. Uma floresta bem gerida vai-se valorizando.

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